Logo a oferta do senhor foi aceita por todos e então como se isso despertasse a presença de todos ali, nomes começaram a ser ditos. Após Jamie começar as apresentações a irmã, Sarah de La Rogue, seguiu seu exemplo, usando palavras adocicadas, mas ao ver de Jamie, frias. A segunda foi a moça que a pouco estava doente, Charllot D'alembert, agora corada e sorridente. Jamie retribui o cumprimento, mas não se estendeu no assunto, como faria em apresentações normalmente, pedindo para usarem Jamie e não Jasmine.
A última apresentação veio do cavalheiro de cavanhaque, Johan, tinha um sotaque carregado que Jamie não identificou, todavia não era francês. Era um homem muito pomposo, lembrando um galo de briga, emplumado e que fica fazendo banca no cercado, mas no fundo... O único que não dissera nada desde os últimos resmungos no trem era o homem alto e pálido que apenas acompanhava as pessoas como se não notasse estar fazendo isso. Era intrigante, mas se ele queria silencio, teria o dela, pelo menos.
O caminho até a casa foi mais curto do que Jamie imaginava, coisa de poucos passos da sede da policia. Conveniente, não? A garota até achou que essa proximidade seria bom, pois como ainda era dia alto, poderia resolver o assunto dos documentos assim que descansasse um pouco e quem sabe conseguisse mais algumas informações.
O homem conduziu a todos para dentro da sua casa, modesta, mas limpa e arrumada. Percebia-se o toque feminino, a mulher por mais transtornada que estivesse ainda mantinha a casa em ordem, até mesmo com adornos delicados como flores. A cozinha era pequena e a mesa tinha apenas três bancos. Isso chamou a atenção de Jamie, teria mais alguém na casa? Ou estavam esperando esse alguém?
Os acentos foram oferecidos as mulheres, questão de educação, claro. Em seguida o homem disse algumas palavras e saiu para buscar mais acentos. Um silencio um tanto incomodo pairou, então, Jamie apenas puxou um dos banquinhos e sentou-se encostada na parede, esperando o dono da casa retornar.
Logo o senhor estava de volta e todos se acomodaram, como prometido o anfitrião perguntou o que gostariam de comer e beber. Todos foram muito simples em seus pedidos, o que era natural, mas se Jamie não comesse algo logo acabaria desmaiando.
- Senhor, disse que tinha queijo, pois um pedaço de pão com queijo e uma caneca de café, para mim será um banquete. – O homem concordou e prestativo foi buscar. A senhorita Charllot, parecia muito curiosa, por mais de uma vez andou pelo cômodo tentando espiar pela fresta da porta por onde o dono da casa passava, pela expressão que fez ao retornar ao seu lugar, não tinha sido bem sucedida.
O anfitrião voltou trazendo chá, café, pães e queijo. O cheiro de café fresco era como balsamo naquela manhã, enquanto os hospedes se serviam, o homem ficou parado com uma expressão urgente no rosto, logo revelou o motivo:
- Sim, agora devem estar com muitas perguntas sobre mim, afinal, viram aquela cena toda. Mas não poderia ser diferente. Como devem saber, nada é totalmente gratuito, apesar de minhas intenções serem nobres. A única coisa que peço é que me digam mais sobre o que viram no trem, e assim sendo, poderei responder qualquer pergunta que tiverem, e que estiver ao meu alcanse a resposta. Se puderem concordar com estes termos, serei seu servo nos dias de hoje e amanhã, e mesmo assim serei ainda grato pelos dias que seguem. Dis-je?
A irmã Sarah foi a primeira a responder, falando sobre o assassinato que ocorreu, entretanto foi interrompida pelo anfitrião, não era sobre o cadáver que ele gostaria de saber, seu interesse era outro. Ele queria saber algo sobre a tal garota que foi vista no trem, aquela sobre qual a menininha comentou com a mãe ali na entrada da sede da guarda, Jamie ouviu o comentário por estar ao lado da menininha.
O olhar do senhor estava tão cheio de expectativas e um fervor que o deixava meio sinistro, Jamie começou a somar algumas coisas, mas antes que pudesse dizer algo, o jovem pomposo interrompeu a conversa, tinha acabado de derrubar café em si mesmo. Um ato conveniente, pensou a garota. Afinal, há poucos instantes ela tinha percebido os olhos do rapaz percorrendo cada canto da casa.
O dono da casa, solicito coitado, foi rápido arrumar trajes limpos para o desastrado enquanto este seguia para o corredor ou banheiro, não fazia diferença. Jamie percebeu que o rapaz que ainda não se apresentara estava estranho, com um olhar vago. Será que ele sabia do que o senhor estava falando?
Alguns minutos passaram, mas para Jamie que agora estava muito curiosa, pareceram horas, até que os dois homens voltassem para cozinha e ela não perdeu a chance, não queria ser interrompida.
– Senhor, por favor. – O homem voltou sua atenção para ela. – O senhor ainda não nos disse seu nome, apenas o nome da Senhora que vos acompanhava. Sinto não poder ajudar , eu não vi nada no trem apesar de passar a noite em claro, mas ouvi a garotinha perguntando sobre outra menina para a mãe, enquanto ainda estávamos na guarda e como a mãe dela fez com que se calasse.
- Se realmente tinha uma ou não, talvez meus companheiros possam responder, ou talvez a própria garotinha se for conhecida. Agora, desculpe minha intromissão, mas percebi algumas coisas quando entramos aqui, - Lembrou-se do numero de acentos e da casa arrumada -... essa garota que se refere, seria ela parte da razão da Senhora Samantha estar dessa maneira? O que houve?
Jamie fora mais longe do que a educação permitia, mas como o homem mesmo tinha deixado claro que queria informações, nada mais justo do que tentar entender os motivos, quem sabe cada um ali tivesse algo para acrescentar. Pensando isso, Jamie buscou apoio em seus companheiro, embora soubesse que muito provável não o tivesse.